Exercícios de Tragosophia em tempos de Pandemia: o bode, a ovelha e o lugar da inventividade na prática do filósofo

Autores

  • Alexandre H. Reis Universidade Federal do Vale do São Francisco

DOI:

https://doi.org/10.31416/rsdv.v8i2.47

Palavras-chave:

tragosofia, mundo ético, cisão, filosofia contemporânea, pandemia, estoicismo, COVID-19

Resumo

O presente ensaio desenvolve seu itinerário em torno de algumas ideias fundamentais da filosofia entendida como exercício de vida, partindo de um resgate da ideia de encontro própria da prática do symposium dos antigos gregos e propondo determinadas rupturas. A partir deste resgate, o escrito se desenvolve no sentido de mostrar as cisões próprias do mundo contemporâneo, a partir de noções filosóficas que elucidam a cisão entre a atividade intelectual e acadêmica dos filósofos e a sua orientação cotidiana. Esta cisão é compreendida a partir do confronto entre a concepção de filosofia estoica, própria do período do helenismo e da república romana e as concepções modernas, que ainda permanecem atreladas à escolástica. Para isso, é retomada a ideia hegeliana de necessidade da filosofia, segunda a qual a razão procura juntar o que é separado pelo entendimento. No início de nossa modernidade, Hegel aponta, portanto, para a perda da ideia de conciliação no mundo ético. Este retorno a Hegel, absolutamente breve, não tem outra função senão o de mostrar a necessidade de ultrapassar a tradição, aprendendo com ela o exercício da crítica. Ao desenvolver um exame da filosofia como atividade acadêmica, Os Exercícios de Tragosofia criam metáforas explicativas que remetem às diferenças entre o bode e a ovelha, para fazer nascer provocações que exigem de nosso tempo renascimentos possíveis. É exatamente esta cisão do mundo ético que procuramos mostrar e apontar para a necessidade de ultrapassá-la. A expressão tragosofia é tomada da obra póetica de Luiz Cláudio da Cruz (Marimagístico. Belo Horizonte: Literato, 2017) e desenvolvida no sentido de eleger alguns princípios fundamentais da prática filosófica pensada a partir da inventividade como princípio fundamental para a ativar a imaginação filosófica. Portanto, o ensaio examina algumas concepções de filosofia, a exemplo do estoicismo e da escolástica, e retoma algumas ideias fundamentais da tradição ocidental, como encontro, cisão do mundo ético, o eu e o outro, e desenvolve os princípios de inventividade e desobediência como fundamentos de uma tragosofia, isto é, de uma sabedoria prática que fundamente na vida do filósofo uma autenticidade que supere as cisões entre vida cotidiana e vida intelectual, entre o exercício exegético da leitura do texto filosófico e a imaginação filosófica.

Referências

ARISTÓTELES, Ética a Nicômacos, tradução de Mário da Gama Kury, São Paulo: editora da Unb, 2001.

BUBER, M. Eu e tu. Introdução e Tradução: Newton Aquiles Von Zuben. 2. ed. São Paulo: Moraes, 1977.

BUBER, M. Sobre comunidade. São Paulo: Perspectiva, 1987. (Coleção Debates). FRIEDMAN, M. Martin Buber: the life of dialogue. London: Routledge and Kegan Paul Limited, 1955.

BUBER Martin. Replies to my Critics. In: SCHILPP, P. A. ; FRIEDMAN, M. (Orgs). The Philosophy of Martin Buber. La Salle/Ill.: Open Court, 1991. (The Library of Living Philosophers, v.12), p. 693.

DEVIR [Luiz Cláudio da Cruz]. Marimagístico. Belo Horizonte: Literato, 2017.

FERGUSON, N., Laydon, D., Nedjati Gilani, G., Imai, N., Ainslie, K., Baguelin, M., ... Ghani, A. (2020). Report 9: impact of non-pharmaceutical interventions (NPIs) to reduce COVID19 mortality and healthcare demand. http://dx.doi.org/10.25561/77482.

HADOT, Pierre, O que é filosofia antiga? São Paulo: Layola, 1999.

HEIDEGGER. “A essência da linguagem” in. A caminho da linguagem. Tradução de Marcia de Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, o Francisco, 2003.

HEGEL, G. W. F. Jenaer kritische Schriften (I), Differenz des Fichteschen und Schellingschen Systems der Philosophie, Felix Maneiner Verlag, Hamburg, 1979, p. 10-15.

KERÉNYI, Karl. Dioniso, imagem arquetípica da vida indestrutível, página 274, da editora Odysseus)

PASCAL, B. Pensamentos (Pensées). Milliet, Sérgio (trad. e org.) & Des Granges, Ch. M. (introdução e notas) Rio de Janeiro : Tecnoprint Gráfica S.A. 1966.

PLATÃO, O banquete, Bauru/SP: edipro, 2013.

PLATO , Apology of Socrates and Crito, texto grego e notas de Louis Dyer, Boston, Published by Ginn & Company, 1902. O livro está disponível em https://tinyurl.com/y9byfdb4.

PLUTARCO, “Si la politique est l’affaire des Vieillards” in. Œuvres Morales, Tomo XI, 1re partie Traités 49 -51 edição e tradução para o francês de Marcel Cuvigny, Paris: Belles-Lettres, 1984.

REIS, Alexandre H. Os Jardins da Academia, Curitiba: editora Appris, 2018.

REIS, Alexandre H. História do Suicídio, Livro I. Variações Antigas e o Domínio do Cristianismo. Belo Horizonte: Páginas Editora, 2020.

ROSA, Guimarães. Grande Sertão: Veredas. São Paulo, Cia das Letras, 2019.

SCHMITT, Carl, El concepto de lo político, Madrid: Alianza Editoral, 2006.

SCHOPENHAUER, Arthur. Parerga und Paralipomena. Zurique: Haffmans, 2 vols, 1988.

SCHOPENHAUER, Arthur. O mundo como vontade e como representação, tradução, apresentação, notas e índices de Jair Barboza. - São Paulo: Editora UNESP, 2005.

XENOFONTES. Apologia de Sócrates. São Paulo: Abril Cultural, 1999 (Coleção Os Pensadores).

Downloads

Publicado

2020-05-01

Como Citar

REIS, A. H. . Exercícios de Tragosophia em tempos de Pandemia: o bode, a ovelha e o lugar da inventividade na prática do filósofo. Revista Semiárido De Visu, [S. l.], v. 8, n. 2, p. 133–151, 2020. DOI: 10.31416/rsdv.v8i2.47. Disponível em: https://semiaridodevisu.ifsertao-pe.edu.br/index.php/rsdv/article/view/47. Acesso em: 22 dez. 2024.