Da efervescência orgástica ao agrilhoamento de Eros:
as vicissitudes corporais sob a pena lispectoriana
DOI :
https://doi.org/10.31416/cacto.v1i1.262Mots-clés :
Literatura, Lispectoriana, Pulsão, Corpo, SexualidadeRésumé
No contexto da medicina do século XIX, a concepção de corpo, imbrincado com a perspectiva de unidade constituída a partir das relações bioquímicas e anatômicas, vigorou sobre a escrivaninha de psiquiatras e outros profissionais da saúde humana. Nesse cenário, o corpo assume as reverberações da medicina anatômica, que, por séculos, esmiuçou os flancos corporais em busca de respostas comprobatórias a respeito das inúmeras sensações experenciadas pelos sujeitos, principalmente, quando se refere aos horizontes da sexualidade humana. É a partir dos postulados teóricos de Sigmund Schlomo Freud (1856- 1939) que a subjetividade transpassa o conceito de corpo biológico. O Inconsciente e suas reverberações na conduta dos sujeitos sociais denunciam a existência oculta de um Outro corpo tomado pelo transbordamento libidinal e sua perene busca pela satisfação. Nesse sentido, a psicanálise freudiana vislumbra um corpo erógeno e sempre em tensão com os reclames culturais, que, por sua vez, promulgam o contingenciamento das descargas orgásticas em nome da consolidação de normas e comportamentos idealizados no âmbito da sexualidade. Em contrapartida, a Literatura, por meio de suas especificidades efabulatórias, engendra personas que mimetizam as imaterialidades humanas. Assim, a escrita Lispectoriana, nesses parâmetros, apresenta-se como um profícuo espaço para se forjar reflexões sobre as demandas da existência dos seres sociais. Logo, por meio da interlocução entre Literatura e Psicanálise, desenvolveremos uma análise do conto clariceano Ruído de passos, presente na obra Via Crusis do Corpo (1974). Nesee texto evidencia-se as vicissitudes da personagem Cândida Raposo e seus conflitos circunscritos entre o prazer/desprazer; satisfação/ angústia diante dos interditos culturais e o transbordamento libidinal experenciado. Para tanto, recorremos os postulados freudianos acerca do conceito psicanalítico de corpo e pulsão.
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