Entre a sacralidade da carne e as heresias da palavra: o tupor de Eros na constística clariceana

Autores

  • Guilherme Ewerton Alves de Assis

DOI:

https://doi.org/10.31416/cacto.v1i1.276

Palavras-chave:

Literatura feminina, Erotismo, Psicanálise, Religião

Resumo

Nas calendas da mitologia grega, Eros se apaixona pela mortal Psiquê, e ambos passam a ter noites voluptuosas, entremeados por um erotismo sagrado, ligados pela linha tênue do mortal-imortal. Por esse viés, o universo literário veleja pelos mares inavegáveis da sociedade, pelas águas do sagrado e do profano, desvelando, assim, anseios prementes no inconsciente humano, todavia soterrados na arcádia psíquica. Longe do preâmbulo mitológico, é factível que, nos escritos lispectorianos, o envelope quebradiço que envolve certas personagens, revestindo-as de pureza e ingenuidade, é esfacelado por fantasias viscerais, as quais estreitam os signos e, por conseguinte, estrangulam a tentativa inócua de beatice. Nesse corolário, desfilar-nos-emos pelos sulcos dicotômicos que se irrompem na diegese clariceana, sobretudo no compilado contístico A via crucis do corpo (1974), fixando-se na (im)compatibilidade entre o enclaustro moralista e a potência do desejo. No intercurso transcendental de Miss Algrave, intentamos compreender a dialética subjetiva entre o atroz desejo de Eros e a turbulenta harmonia de Ártemis – ora velados ora em erupção –, rivais da (i)moralidade dogmatizante que coata, irroga e recalca a pulsão. Para isso, recorreremos aos escritos psicanalíticos acerca do erotismo, virgindade, desejo e, por fim, religião.

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Publicado

2021-08-29

Edição

Seção

Artigos Transdisciplinares (Fluxo Contínuo)